Amigo meu, companheiro frio, me acaricias a face e me cortas a alma. Vem soprar hoje, eu te sopro também, tu és a rocha.Hoje estou longe, me levaste como fizestes com Dorothy, estou em um país sem encantos, sem brilho, sem vento; me sopra de volta, me puxa pra onde eu estava; ao menos as cores eram vivas e o gosto tinha sabor; agora tudo é cinza, tenho que recorrer a um sorriso infantil para esboçar o meu, tenho que fechar os olhos se quiser ouvir-te dentro de mim, quando cruzas minhas vastas solidões, minhas esquinas sem ângulo…
Tenho que ouvir uma melodia que me lembre a expressão de quem amo; agora a felicidade é rara, nem todos os sorrisos são coloridos, nem todo poema é terno; e a culpa é tua, amigo vento; frio, dividiste tua frieza comigo, agora me ensina a voar solto, para que eu busque os verdes campos, para que eu deflore as virgens borboletas que bailam sobre mim, deixa eu revirar os cabelos das ondinas, enfurecer o mar de ciúmes.
Agora estou aqui, idéias sopram em minha mente, os pensamentos voam sem importância, não lhes dou atenção, alguns são cinzas também e outros sem razão de ser; assim, penso entre os intervalos em que os observo, e, nestes intervalos, tenho a ilusão de que não estou pensando, são apenas rodamoinhos psíquicos em alguma esquina infeliz.
Agora vou te ensinar algo, vais ter que voar comigo, vais me abraçar e também perder algo quando fizer isso, meu amigo vento; vais perder teu desapego e tua mania de se perder, experimentar o que é voar por onde não há o ar que dominas; vou te ensinar também meu amigo, pois até a solidão pode ser esquecida, e teus argumentos ficarão vazios como quase me deixaste.
05/03/2004
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