Monólogo do deus da lama
Posted by: Clodoilson
maio 25th, 2004 >> Existencialista, Revoltados :P, Sombrios
A Grande Revolta pousou em minha alma!
Que desgraça!
Que desgraça!
O corvo dilacera meu ombro esquerdo!
Grito horrendo!
Pavoroso!
Como pude?!
Quando aconteceu?
Por que, eu, fagulha divina resplandecente,
Deixei-me limitar pelas paredes de fumaça do ego humano?
Carcaça podre, matéria mansão dos vermes!
Gaiola de um deus como eu…
Maldição!
Abandonei meu trono para brincar de ser rei das pedras e dos insetos!
Que saudades da Luz Divina!
Onde está o sol que me servia de travesseiro?
Cadê minhas musas?
Sou um deus reluzente!
Exijo minha majestade de volta!
Inclinai-vos diante de mim! Ó estrelas de brilho fraco!
Ordeno que se enfileirem as galáxias e,
Em torno e em espiral as ornamentem as nebulosas!
Os magnetares sãos as contas de meu colar,
Eu me embriago bebendo o plasma de todos os sóis!
Inclinai-vos mortais!
Eu lanço um imensurável rugido,
Eu jogo o meu peito contra as grades!
Hei de derrubá-las!
Agora é só silêncio…
MENTIRA!
MENTIRA!
MENTIRA!
Sou apenas um homem (é o que diz a voz em minha mente)
Ou apenas penso que sou;
Um aglomerado de idéias conflitantes
Que em desespero silencioso convergem para uma noção de existência.
Boneco de barro, lata cheira de tolices, medos, angústias, limitações,
Ira, autopiedade e todo tipo de entulho e mazelas que se dizem “psíquicas”
E que se amontoam no sarcófago do meu ego.
Eis minha imagem!
Sou todo vaidade!
Minhas obras são fruto de meu narcisismo,
Meus momentos mais felizes são como uma vaga nuvem
De consciência que repousa numa luxuosa cama
E se masturba com aplausos.
Pobre de mim! Ai de mim!
Os vermes não sentem nojo de si mesmos
Nem sentem infelicidade, mas eu sim.
Verme consciente!
Sou este verme!
Em verdade, rastejo na semiconsciência
De minha vergonhosa corrupção…
MENTIRA!
MENTIRA!
MENTIRA!
Não há nenhuma voz, isto também é ilusão!
Não sou aquele deus reluzente!
Não sou aquela criatura decrépita!
Se algum dia já fui alguém ou alguma coisa,
Não sou mais;
Minha forma é sem conteúdo;
Vácuo de qualquer significado,
Sem idéias!
Sem sentimentos!
Sem narcisismos nem revoltas!
Sem amor nem paz,
Sem medo ou desespero,
Sem os conselhos da razão,
Sem a tolice da loucura ou os afagos da ilusão.
Não há nada.
Mas é como se esse nada fosse imperfeito e,
Nele pairasse uma noção de vazio e algumas
Lembranças confusas,
Não importa, não há nem mesmo o desejo de lembrar,
Mas há ainda o que sobrou (se é que eu já existi),
E isto que sobrou foi se juntando como poeira,
A poeira pairou como que em uma brisa,
A brisa moldou uma forma na escuridão vazia e,
Daquelas lembranças confusas,
Com sofrido esforço,
Extraí a informação de que essa mesma forma
Que ainda paira no nada,
Tem a silhueta do que seria talvez
Uma criatura chamada borboleta,
E sua matéria seria chamada de fogo,
Centelha de fogo, ou algo do gênero;
Não tenho certeza porque não posso confiar nas confusas memórias.
Aquela borboleta de fogo foi feita
Do que supostamente restou daquilo
Que podia ser concebido como belo,
Misturado com mais um punhado de lembranças
Pequenas demais para fazer sentido.
Mas se “eu” sou nada,
Quem contempla aquela borboleta?
Quem faz estas perguntas?
Acabo de perceber que no vazio sobrou algo mais,
Esta dúvida, e,
Se sou algo sou isto.
Em irrivalizável silêncio eu observo,
E não é ruim observar,
Aquela idéia flutuante,
Aquela…
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…………………..borboleta…………………………………………….
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25/05/2004 21:50
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