O Descanso do Guerreiro

Posted by: Clodoilson

abril 15th, 2000 >> Homenagens

Eu sou o vento que sopra as planícies, as copas verdejantes se inclinam e me cumprimentam, eu as saúdo. Toda a minha vida dediquei à vida, e raramente à morte, em períodos de guerra.

Sou homem, sou índio, xamã… Sempre busquei nos sonhos algo que mantivesse a mim e a meu povo acordados, quando durmo sonho com Deus… Ele me diz : ” – Meu velho, descanse que a hora é chegada. Teu tempo de guerra passou, teus dons já não são úteis, os homens já não querem tua cura. Cumpriste tua missão, dorme em paz meu filho…”   …

Meus olhos se enchem de lágrimas que, quando escapam de meus olhos ficam presas entre as rugas de meu rosto, rugas que contam nossa história.

Não tenho medo de morrer, pois já não sou um homem comum, meu peito é a curvatura da planície e a vegetação é meus pêlos, quem bebe água no rio beija minha boca cristalina. Temo apenas pelo meu povo, sufocado pelo povo branco que chegou de repente e mudou nossas vidas; chamaram meu cachimbo de alucinógeno recreativo, chamaram-nos de tolos porque parávamos de repente no meio d’alguma tarefa para contemplar o céu profundo, porque sorríamos ao apreciar Deus correndo pelos campos, diante dos nossos olhos Ele era os cavalos selvagens, as raposas, as lebres, a vegetação e toda forma de vida.

Não sou preconceituoso, tenho um grande amigo branco, branco como o cristal de gelo das montanhas, é um bom homem, disse que não tinha nada a me oferecer a não ser suas lágrimas, o que segundo ele, seria inútil para mim; mas na verdade ele me ofereceu a oportunidade de perdoar o homem branco… na profundidade de minha alma. Ele mostrou seu Deus, seu livro sagrado que chama de Bíblia, o homem a leu para mim; fiquei surpreso ao saber que seu Deus era o meu Deus, O Criador, O Grandioso, o que habita toda a vida, o Senhor dos Exércitos, Justo e Amor Supremo. Eu pensava que o Deus dos brancos fosse uma divindade má, sem escrúpulos, que os mandava se destruírem e destruírem aos outros, mas não, todos somos irmãos, poderíamos ter vivido em paz se o homem branco também ouvisse o Todo-Poderoso. Meu amigo chorou mais uma vez … Disse que eu era um homem sábio, que quando eu morresse a mãe terra me afagaria com um forte abraço, que Deus acariciaria minha face velha…
15/04/2000

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